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Rodriques-Ruivo
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Entrevistas |
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Entrevista
com Jorge Rodriques-Ruivo |
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Jorge
Rodriques-Ruivo
| Jorge Rodrigues-Ruivo é o
autor do livro «Portugais et population d'origine
portugaise en France», lançado esta semana pelas
edições l'Harmattan, em Paris. Neste trabalho, editado
em francês, o autor aborda todos os aspectos da
emigração portuguesa em França dos anos 60 até hoje.
P: Que motivos é que o levaram a escrever
este livro?
O livro nasceu de uma série de
circunstancias que se juntaram num lapso de tempo. O
início foi a publicação em 1995 de um artigo de Daniel
Ribeiro no Expresso sobre um trabalho sobre a imigração
em França que acabava de ser editado pelo INED (Institut
d'Etudes Démographiques) da autoria da Michèle Tribalat,
no qual aparecia o seguinte título "Portugueses longe do
sucesso". Nesse artigo os emigrantes portugueses em
França apareciam como os que progrediram menos quando
comparados às outras populações de emigrantes presentes
em França. Nessa altura tive a oportunidade de realizar
na Caixa Geral de Depósitos um estágio na Direcção da
Emigração em Lisboa que me permitiu iniciar o trabalho
de análise dos dados utilizados para a realização do
livro da Michèle Tribalat "Faire France". O trabalho de
construção do estudo demorou cerca de 5 anos. Hoje está
concluído um trabalho original que (do meu conhecer)
ainda não existia. Penso que não existia nenhum sob esta
forma transversal e sobre o conjunto do período
contemporâneo da emigração portuguesa para França.
P: O estudo do INED de 1995 sugere que a
comunidade portuguesa em França não progrediu tanto como
outras comunidades de imigrantes. Sabemos que esse
estudo o influenciou. A pesquisa que acaba de fazer
aponta para as mesmas conclusões?
Os dados
estatísticos tem todos as mesmas fontes, principalmente,
no caso da França, o INSEE (homólogo do INE). A
diferença que pode existir, entre os estudos do INED e
este trabalho, está estritamente na ordem do tipo da
análise. Ou seja, o facto que haja menos jovens
portugueses nas universidades que jovens oriundos da
imigração norte africana é uma realidade. No entanto
parece-nos também importante de mostrar que em termos de
percentagem de diplomas conseguidos os portugueses e os
argelinos partilham as mesmas taxas, ou seja : 14% dos
jovens homens de 25-29 anos filhos de pais portugueses
conseguiram obter um diploma universitário em 1991 (como
os argelinos). Visto sob este angulo o insucesso parece
mais relativo (mais ainda, essas mesmas taxa foram de
20% para as raparigas filhas de portugueses e de 13% no
caso argelino).
Este é um caso, mas existem
outros também característicos salientados por este
livro.
P: Quais são os maiores obstáculos
ao sucesso dos nossos emigrantes e seus descendentes em
França?
O mais importante é de definir o
termo sucesso. Se sucesso quer dizer conseguir a sua
vida sob um aspecto financeiro, então não podemos falar
de fracasso no caso dos portugueses em França. Já em
1990 os agregados familiares portugueses registavam um
salário anual superior ao da média francesa!
Mas
se o termo sucesso for entendido como sucesso social
então as opiniões são as seguintes : Se nos referir-mos
a uma série de análises expostas até aqui, e que fazem
uma certa leitura dos dados estatísticos, poderíamos
pensar que os portugueses pouco evoluíram em termos de
escalões sociais. Por nossa parte pensamos que, mesmo se
estes são a realidade, existe alguma forma diferente de
os ler e existem outros dados que os podem relativisar.
De facto se a maioria dos filhos de operário portugueses
continuam a ser operários (geralmente operários
qualificados) no entanto 10% tornam-se técnicos e 10%
tornaram-se independentes. Mais ainda, os trabalhadores
independentes representavam 6% dos portugueses de França
(1992) enquanto esta categoria representava apenas 3% do
total de população francesa.
No caso dos
portugueses que emigraram nos anos 60-70, podemos também
salientar o seguinte: De 1981 a 1989, 25% dos
portugueses em França obtiveram uma promoção social.
Esta era a taxa mais elevada de todas as nacionalidades
presentes em França! A taxa para a média da população
francesa foi de 16% (e de 9% para os norte africanos).
Por essas razões não gosto muito de falar de
"obstáculos ao sucesso". Em nenhum caso de população de
emigrantes se registou uma evolução onde todos os filhos
de operários se tornaram todos titulares de diplomas
universitários. O sucesso pode ser um pai operário que
conseguiu dar uma formação de picheleiro ou mecânico ao
seu filho e que este passando alguns anos de formação
vai conseguir criar a sua empresa de pichelaria ou de
mecânica (casos frequentes).
P: É verdade que
os portugueses apostam menos na educação como uma via
para a integração e para o "sucesso" na vida
profissional que outros grupos?
Não. Não é
verdade. A vossa pergunta reflecte as leituras
simplistas de alguns dados estatísticos que dizem apenas
o seguinte : "Os filhos de portugueses em França
orientam-se (na maioria dos casos) em fileiras de
formação curtas". Deduzindo que os pais não apostam na
formação dos filhos para privilegiar qualquer outro
indicador estatístico que revela outros pontos de
interesse. Neste caso é interessante de analisar esta
situação com a vida social dos jovens filhos de pais
portugueses em França e depressa nos apercebemos que
esses jovens tem uma característica principal que é de
iniciar uma vida de casal muito novos, e em consequência
de terem de saírem de casa dos pais para começar uma
vida familiar e nesse sentido é necessário conseguir
obter a sua independência financeira ou seja entrar o
mais rapidamente possível no mercado do trabalho.
Parece-me que existe mais nos jovens filhos de
portugueses em França uma vontade de não prosseguir os
estudos do que uma vontade dos pais em não apoiar os
estudos dos filhos. Já agora, permita-me uma pergunta :
"Quais são os pais que não querem que os filhos
continuem de estudar para obter uma formação superior?
(sendo que os pais portugueses em França tem capacidade
financeira para esse apoio)"
P: A escolha
para os luso-descendentes é entre a integração e a perda
da sua identidade, ou é possível manter a identidade
mesmo integrando-se plenamente na sociedade francesa?
Penso que o problema se situa mais no
seguinte sentido: Existe na comunidade portuguesa de
França um sentimento de uma identidade "portuguesa
emigrante" ligeiramente diferente da identidade
"portuguesa" tal como pode ser ressentida por um
português que vive em Portugal. No que diz respeito a
este ponto, dou algumas respostas na conclusão do livro
que fazem entrever a possível evolução da emigração
portuguesa em França.
P: A edição é
unicamente em francês? Está em estudo uma edição em
português?
O livro foi redigido em francês.
O editor tem todos os direitos sobra a obra inclusive as
eventuais traduções. Neste momento não está prevista
tradução para português penso que isto pode depender do
êxito da obra em francês.
P: Virá a Portugal
apresentar a obra?
Eventualmente, se me for
proposto, será com muito prazer.
Jorge
Rodrigues-Ruivo |
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